Sonho da exportação para o Queijo Minas Artesanal é possível? Entenda desafios

O Queijo Minas Artesanal, um dos símbolos da culinária mineira, conquistou o mundo com o
reconhecimento da Unesco
, mas enfrenta dificuldades para ser exportado. Por tradição, o produto é feito com uso de leite cru e não passa por nenhum processo mecânico/industrial. Mas é justamente esse o principal obstáculo para a venda a outros países.

O processo de fabricação do queijo, com leite in natura e sem passar por tratamento térmico, contraria as normas sanitárias de muitos mercados internacionais. Segundo o especialista em queijos artesanais Elmer Almeida, as barreiras sanitárias são a principal razão pela qual a exportação do produto ainda é um sonho distante.

“Na verdade, são acordos comerciais. Para exportarmos queijo de leite cru para algum país, nós vamos ter que importar deles alguma coisa também de leite cru. Existe no Brasil também uma barreira sanitária para fazer isso e alguns países não vão aceitar”, afirmou Almeida à Itatiaia.

O transporte do queijo poderia colocar o produto em risco de contaminação pela bactéria Escherichia coli, por exemplo, um dos principais problemas para os queijos de leite cru. “É uma bactéria super perigosa no queijo”, enfatizou o especialista.

Para que o Queijo Minas Artesanal possa ser vendido no exterior, seriam necessárias mudanças no processo produtivo que, por sua vez, poderiam comprometer suas características originais e sua essência artesanal. O desafio, portanto, é encontrar um equilíbrio entre a tradição e as exigências do mercado global, sem perder a identidade que tornou o queijo um patrimônio cultural brasileiro.

“Eu não vejo como breve a exportação, eu nem trabalho com essa ideia. Eu dou consultoria pensando no consumo interno, em aumentá-lo no Brasil”, agregou Almeida.

Ilegalidade do queijo

Outra questão que atrapalha a exportação do queijo é a ilegalidade, quando a produção e o estabelecimento não estão de acordo com as normas e selos do Instituo Mineiro de Agropecuária (IMA) e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

“O risco sanitário do Queijo Minas Artesanal é muito grande. Quem não está no serviço de inspeção tem que entender isso para que a gente possa ajudar esse indivíduo a participar do processo”, explicou o André Pereira Lage, professor do departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“O queijo mal preparado e mal processado dá uma abertura para um grande problema de saúde alimentar”, reforçou.

Queijo Minas Legal

Os produtores de queijo devem regularizar suas queijarias para garantir alguns benefícios, como geração de emprego, aumento de renda, reconhecimento e visibilidade para o produtor – que pode concorrer a premiações e títulos.

A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) do estado auxilia os produtores por meio do projeto Queijo Minas Legal. A iniciativa, em parceria com o Ministério Público, garante desde visitas técnicas até coleta de amostras do leite e da água utilizadas na fabricação dos queijos.

Desde o início em 2023 e, até o momento, 107 queijarias foram regularizadas no âmbito do programa, conforme dados atualizado pela Seapa, a pedido da reportagem da Itatiaia.

Série especial

Para debater o cenário do queijo mineiro, o Itatiaia Agro preparou a série especial ‘Somos do mundo, e agora? O cenário do Queijo Minas Artesanal após o título da Unesco’.


Clique aqui para conferir a primeira reportagem:

A próxima reportagem da série vai abordar o turismo do queijo, impulsionado pelo reconhecimento global.


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