Ciro Gomes ensaia guinada à centro-direita e reforça distanciamento do PT

O ex-governador do Ceará,
Ciro Gomes
(PDT), tem se aproximado da centro-direita e é cortejado por partidos do campo político. O ex-presidenciável pode estar na mira de siglas aliadas ao ex-presidente
Jair Bolsonaro
(PL), afastando-se, cada vez mais, da legenda pela qual disputou os dois últimos pleitos presidenciais, em 2018 e 2022 — ficando em terceiro e quarto lugar, respectivamente.

No gesto mais recente, Ciro participou da convenção que oficializou a criação da federação partidária entre União Brasil e Progressistas (PP), em Brasília — evento que contou com a presença de nomes como o governador de Goiás,
Ronaldo Caiado
(União Brasil), e também do
senador e ex-juiz Sérgio Moro
(União Brasil).

Entenda a linha do tempo

Em 2018, quando disputou a presidência pela primeira vez pelo PDT, Ciro não poupou críticas ao atual ministro da Fazenda e, à época, candidato,
Fernando Haddad
(PT), e também ao próprio presidente Lula (PT), que não disputou as eleições.

Fora do segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, Ciro apoiou discretamente o candidato petista.

Em 2022, já com Lula concorrendo e Bolsonaro disputando a reeleição, Ciro subiu o tom contra o ex-chefe — o ex-governador atuou como ministro da Integração Nacional durante o primeiro mandato de Lula, em 2003.

Amargando o quarto lugar, com a pior votação em uma campanha presidencial,
Ciro voltou a declarar apoio ao PT
, mas sem citar diretamente o nome de Lula. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o ex-governador afirmou que lamentava que “a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que restem aos brasileiros duas opções”, consideradas por ele como “insatisfatórias”.

O ano de 2022, no Ceará, ainda marcou o fim de uma aliança de 16 anos no estado, que começou com a eleição de
Cid Gomes
(PSB), irmão de Ciro, para o governo estadual em 2006.

Além de ser reeleito, Cid também emplacou um de seus secretários, o atual ministro da Educação,
Camilo Santana
(PT), ao governo do estado. Santana deixou o cargo em 2022 para a vice,
Izolda Cela
(PDT), disputar uma vaga no Senado Federal.

Izolda era a candidata apoiada por Santana para a disputa ao governo em 2022. No entanto, não era o nome preferido do PDT, que acabou lançando a candidatura de Roberto Cláudio — favorito de Ciro. Ao fim, Izolda se desfiliou da sigla, e o PT lançou a candidatura de
Elmano de Freitas, atual governador do Ceará.

Racha no PT em Fortaleza

Em 2024, nas eleições municipais, o partido de Ciro disputava a reeleição da capital, Fortaleza, com
José Sarto
. A candidatura do prefeito, no entanto, não decolou, ficando de fora do segundo turno.

Com a prefeitura sendo disputada por
Evandro Leitão
(PT) e
André Fernandes
(PL), o partido optou pelo posicionamento oficial de neutralidade. Sarto seguiu a postura do PDT e, em nota, liberou os aliados para apoiarem os antigos adversários.

Internamente, a
legenda se dividiu
: parte apoiava a candidatura de Leitão, e outros apoiavam Fernandes.

Ao final, o candidato petista venceu um segundo turno acirrado, com uma diferença de 10.838 votos.

Ciro não chegou a declarar apoio a nenhum dos dois candidatos publicamente, mas, em outubro de 2024, o ex-presidente
Bolsonaro chegou a afirmar que o ex-governador apoiou o nome de André Fernandes
no segundo turno.

Fraudes no INSS

Neste ano, no centro dos escândalos de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), estava o então ministro da Previdência Social,
Carlos Lupi
.

Para ser ministro, Lupi havia se licenciado da presidência nacional do PDT. Na época em que o caso estourou, o pedetista chegou a ser defendido por Ciro, mas acabou pedindo demissão.

Com a saída de Lupi da pasta, a
bancada do PDT na Câmara deixou a base aliada do governo federal
.

Oposição no Ceará

Mirando uma “aliança” para 2026 contra a candidatura à reeleição de Elmano no Ceará,
Ciro se reuniu mais de uma vez com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro
, que, por sua vez, fazem oposição ao atual governo cearense.

Em um dos encontros, com vereadores da oposição a Leitão em Fortaleza, Ciro chegou a receber elogios do deputado federal André Fernandes, derrotado nas eleições municipais. Antes crítico do ex-governador, Fernandes classificou o pedetista como “inteligente” e “corajoso”.

Com
deputados estaduais na Assembleia
, Ciro afirmou que esperava votar no Pastor Alcides Fernandes (PL), pai de André, como senador em 2026.

Na última terça-feira (19), em um evento do PP e do União Brasil, Ciro, durante discurso, disse aos políticos presentes que a “superfederação” das duas legendas era um sinal de que “nem tudo está perdido”.

“Façam desse gesto, dessa iniciativa, um ato de gravitação universal, ou seja, chamem tudo que o brasileiro pode oferecer, da centro-esquerda à centro-direita, para nós tirarmos o Brasil desse desastre”, disse o pedetista.

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